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Opinião Contemporânea: "O Poder das Pequenas Coisas" de Jodi Picoult

fevereiro 01, 2018 Inês Santos 0 Comments



O PRIMEIRO DE MUITOS

Este livro da Presença, com a melhor capa de todas as edições deste livro, foi o meu primeiro quando falamos de Jodi Picoult. Tenho ou já tive todos os livros dela, mas foi pelo último que decidi começar devido a várias condicionantes. Não sei se vou gostar mais dos outros ou não, mas este foi um começo perfeito, com um livro perfeito. O primeiro de muitos com certeza.
Adoro a textura das folhas deste livro. Se não me engano, antigamente eram sempre assim, mas agora preferem ter folhas ou demasiado grossas ou demasiado finas, sem esta textura rugosa que me faz passar os dedos pela página e não apenas pela margens para virar a folha.
Adorei as citações no inicio de cada parte, principalmente a que deu origem ao título. Normalmente ignoro-as, mas decidi ler a primeiro e então foi por aí adiante.
O primeiro capítulo, a título de introdução, foi optimamente escolhido. Dando-nos uma introdução a vários temas, a várias personagens, incluindo a mãe de Ruth e Rachel.
Aqui o tema principal é sem dúvida o racismo, mas a autora explora muito bem os seus vários lados. Sem dúvida que a intensidade deste livro é a maior parte devido a esta temática, principalmente porque temos personagens com personalidades muito fortes e que despertam em nós mil e um sentimentos. As injustiças então para mim fizeram-me fechar o livro várias vezes para poder respirar fundo e acalmar-me. Um livro proibido a doentes com problemas de ansiedade ou de coração.
Rachel/Adisa, a irmã da nossa personagem principal, é tão racista como todos os outros brancos que aparecem durante este livro. Dizendo frases como:
De cada vez que ligas a TV ou o rádio, vês e ouves falar de gente branca a ir para a escola e para a universidade, a jantar, a ficar noiva, a beber o seu pinot noir. (...) Mas quantas pessoas brancas conheces que se dêem ao trabalho de ver os filmes de Tyler Perry para poderem aprender a interagir com as pessoas negras? página 69 
Que eu saiba os canais que vejo falam tanto de pretos como de brancos. E se for no mundo da música então nem se fala. Desde quando é que precisamos de ver filmes para aprender a lidar com pessoas só porque são de outra cor? São especiais? será que ela diria o mesmo de ter que se tirar os sapatos antes de entrar em casa no Japão? De usar burca? Eu considero-me anti-racista, tanto brancos, como pretos, como amarelos, portanto esta personagem acabou por me irritar e revoltar tanto como Tucker, mas a esta podemos adicionar a inveja que ela tem da irmã, que é tão clara como a água. Apesar de tentar se orgulhar de ser afro e até ter mudado de nome, nota-se perfeitamente que ela queria ser a irmã, mesmo sendo mais inteligente que esta.
Mas não vou prolongar esta conversa porque já estou a desviar-me do livro. Não tenho que comentar o assunto.
Além desta temática temos a diferença de oportunidades entre as diferentes classes, altas e baixas. Como cada uma vê a outra. Como actua. É impressionante como há coisas que nos estão tão enraizadas que nunca conseguiremos nos colocar no lugar do outro mesmo que tentemos. Jodi Picoult desenvolveu, e muito bem, este tópico, e posso dizer que me emocionou/enraiveceu tanto como os outros.
Falando das personagens, temos a principal Ruth, que é perfeita para o papel. Grande coração, excelente profissional, mãe solteira que consegue mesmo com tantas dificuldades ensinar e transmitir boas práticas ao seu filho Edison. Ruth é "leite com café" que tenta se adaptar tanto ao lado branco como ao lado preto, mas que acaba por ser criticada de ambos os lados, porque acaba por nem ser nem uma coisa nem outra tanto por fora tanto por dentro. A sua irmã por outro lado é "café com leite" ou só "café" e corresponde em tudo às expectativas.
Adisa é uma personagem muito real que irá ser o símbolo do outro lado da personagem Tucker, que representa o supremacista branco. É ele e a sua esposa que vão fazer frente a Ruth. O que gostei foi que em situações delicadas como estas, este casal de jovens pais também vão ser vitimas e por isso encontrei por aqui muitas dualidades, muitas vertentes que mostram que nada é só preto e branco, existem muitos tons de cinzentos.
Apesar de a nossa simpatia com este último casal, acabei por gostar de conhecer a sua história, de como se conheceram, a sua conexão, as suas "aventuras". Não me aproximou minimamente nem criou qualquer compaixão apesar do que aconteceu no inicio do livro, mas pelo menos tornou-os um pouco mais humanos. Algo que se prova no final do livro.
Quando lerem as primeiras cenas do hospital onde Ruth trabalha, quando ela é acusada, podem ter a certeza que é assim que acontece. Existem locais de trabalho que podemos considerar uma segunda casa, com uma segunda família, mas há outros, como este hospital, e infelizmente na sua maioria, que é exactamente o contrário. Uma verdadeira selva, onde colegas, mesmo aqueles com quem saímos no horário pós-laboral, que convidamos para nossas casa, são os que nos apunhalam mais fácil e rapidamente. Se se identificarem com o primeiro caso então agradeçam todos os dias e não se queixem de nada!
Também não me identifico muito com bebés e ser mãe, mas gostei de ler sobre este lado de enfermagem, com muita empatia e profissionalismo, sobre os vários casos e as várias mães.
De qualquer forma, todas as personagens vão evoluir de maneira exponencial, algumas quase radicalmente, o que para mim foi um lado muito positivo. Houve momentos de total surpresa em relação a este desenvolvimento destas pessoas. Tudo isto juntamente com a escrita da autora temos aquela sensação que não estamos a ler um livro, mas sim a ver um filme ou até a vivê-lo porque todas as sensações e emoções são tão reais. Todas as cenas e todas as personagens. Tão reais que quando fechava o livro para respirar fundo, parecia mesmo que tinha estado dentro de algo completamente fora do meu consciente. Fico muito feliz por isto, porque as expectativas estavam muito altas e normalmente nada consegue corresponder a tal altura! Jodi Picoult não só correspondeu como me surpreendeu de forma muito positiva.
Adorei, adorei, adorei.
Mas cuidado porque este livro altera a linha do ECG de forma drástica!

Ruth Jefferson é uma enfermeira obstetra com mais de vinte anos de experiência. Um dia, durante o seu turno, começa uma avaliação de rotina a um recém-nascido. Minutos depois é informada de que lhe foi atribuído outro paciente.Os pais do bebé são supremacistas brancos e não querem que Ruth, afro-americana, toque no seu filho.O hospital acede a esta exigência, mas no dia seguinte o bebé enfrenta complicações cardíacas. Ruth está sozinha na enfermaria.Deve ela cumprir as ordens que lhe foram dadas ou intervir?O que se segue altera a vida de todos os intervenientes e põe em causa a imagem que têm uns dos outros.

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